21 de dezembro de 2010

Rastros de alegria...

Enquanto caminhamos observamos as luzes coloridas espalhadas por toda nossa volta. As pessoas que passam por entre nós respeitam o comum de nosso cotidiano... Estão algumas admiradas com todo o brilho ao seu redor, algumas preocupadas com o dia em que está por vir... Um pouco de tudo isso me afeta.
Desde que nos encontramos estamos em silêncio. Em silêncio observando as luzes, o brilho, as variadas pessoas... Tampouco a peça de teatro que acabamos de assistir foi capaz de nos trazer o assunto que talvez esperávamos para disfarçar nossa solidão. Eu sabia que ela partiria em breve.
De nossas bocas saíram apenas umas pequenas lembranças, trazendo consigo o sentimento de saudade... Por que é sempre assim, tão difícil?
A poesia se faz de todas as coisas... Na volta para casa, ao meio de tanta música alegre, muitas pessoas esbanjando roupas caras, muitos sorrisos despertados pelo encanto, vejo um menino, um menino tão novo!, fumando um cigarro... "Pra quê fazer isso?", me pergunto... Depois penso, observando seu olhar perdido, se realmente ele gostaria de estar assim... Imaginei seu coração partido, vi sua expressão sem esperanças... Quis dar-lhe um pouco de felicidade.
Passei rapidamente por ele... Já está tarde e é perigoso. Preciso chegar em casa. Estou atordoada, e quero logo dormir. Confesso que, na minha caminhada, reparo no infinito particular de muitos que também se permitem caminhar.
Num canto escuro vejo um homem e uma mulher. Ela está deitada em seu colo; ele faz carinho em seus cabelos. São pobres, são mendigos, são miseráveis. Ele olha diretamente para mim. Eu sinto o seu amor por ela... Qual a história que eles carregam? Não queria que a vida fosse assim...
Entro no metrô. Acabam-se as luzes coloridas, o brilho, os olhares encantados. A solidão permanece em meu ser. Os pensamentos e lembranças da noite também. Éramos duas entre todas as muitas pessoas ao nosso redor. O silêncio era um só, entre o menino do cigarro e os mendigos no canto escuro. Há poesia no meu infinito particular...
Vidas e vidas esperam por esperança... Vidas e vidas não se importam com tal situação. Sentimento hipócrita e covarde... Minha vida então deseja deixar rastros de alegria para o menino do coração partido e para os mendigos perto do metrô. E assim se faz meu natal.