8 de maio de 2010

Sonho

Estou agora olhando para um vasto céu azul, sentindo a grama em minha pele e a brisa em meu rosto... sentindo um enorme prazer ao pensar no grande dia. Ao pensar em amanhã. Até chegar aqui, são várias histórias; uma vida para contar.
O importante é que tudo valeu a pena.
Lembro nitidamente das minhas sempre mesmas palavras quando as pessoas perguntavam o que eu queria ser quando crescesse. -Atriz!- respondia com os olhinhos brilhando.
"Ah, que lindinha!". Nessa idade, se eu dissesse que queria ser uma borboletinha, as pessoas teriam a mesma reação. Naquela época era fácil ter um sonho tão distante... todos apoiavam, pois com certeza essa escolha mudaria quando estivesse mais grandinha... pois isso era quase impossível, uma loucura, não é mesmo?
Não importava onde, qualquer oportunidade de atuar num teatrinho eu agarrava, e era aquilo o que me fazia feliz, que me dava frio na barriga, que me fazia sonhar. E como sonhar é bom!
Ouvir a palavra "merda", dizendo-me na realidade 'boa sorte', antes de chegar ao palco para me apresentar era o que me divertia.
Mas tudo ainda era brincadeira! Essa é a época em que temos que deixar nossos filhinhos se divertirem com cursos de teatro, dança... pois depois que entrarem na faculdade, não terão tempo para essas coisas...!
Esse tipo de pensamento é o que começava a me chatear quando me tornei uma adolescente. Quando as pessoas perguntavam que curso queria fazer na faculdade- pergunta modificada para "o que você quer ser quando crescer"-eu respondia: -Atriz!, com o mesmo brilho nos olhos.
Elas indagavam um "é mesmo?", cheio de dúvidas e descrenças. Quase ninguém sorria e me apoiava; quando não diziam: "-mas é muito difícil! E você sabe que ator trabalha demais e não ganha dinheiro, né?!".
Sim, eu sei. Sei que de tão difícil é quase impossível. Sei que não vou ganhar muito dinheiro. Sei que, às vezes, posso demorar muitos e muitos anos para conquistar reconhecimento. Mas esse é meu sonho, e não vou desistir facilmente dele.
Quando pensava dessa forma, meu coração se enchia de coragem e esperança. Ao mesmo tempo que estudava muito como qualquer adolescente normal, fazia teatro amador e decorava falas como qualquer adolescente considerado sonhador demais para querer seguir essa carreira.
Os anos foram se passando, muitas peças de teatro eu fazia e estas me faziam feliz, e me aprimorar a cada dia era o meu objetivo. O sonho acalentado desde criancinha nunca se perdera, como as pessoas torciam para que acontecesse.
E amanhã é o grande dia. Estreia uma das mais famosas peças de um autor reconhecido, que será apresentada em todo o Brasil, e que terá como atriz principal uma menina que sempre sonhou com esse dia. A menina que nunca deixou de acreditar em seu sonho, não importando o que as pessoas lhe dissessem.

...

Está calmo aqui. A chuva gelada insiste em cair sobre meu rosto e minhas asas. Minhas asas pesam, assim como minha alma.
A influência do mundo dos seres humanos faz o nosso mundo ficar mais gélido a cada dia que passa. Ele já não é mais o mesmo há muito tempo. A hipocrisia, a maldade, a ganância, a falsidade, estou cansado de tudo isso. Meus amigos anjos também. Isso faz com que passemos mal, o que agora acontece sempre. Faz com que me sinta sozinho, angustiado, frio. Sinto frio e tristeza.
-Karrel?
Viro-me para trás. É o anjo Rafael.
- Por que não se protege dessa chuva?
-Eu não sei- respondi com franqueza. -Preferi ficar aqui.
- Bem, eu vim aqui para... avisar que esperamos por você onde sempre nos reunimos, ao leste daquela montanha. Precisamos muito conversar com você.
-Sabe o que é?- perguntei, sentindo-me honrado e confuso.
- Sua missão, Karrel.
Missão. Somente os anjos mais inteligentes, mais fortes, mais treinados recebiam uma missão. Todos os outros cumpriam com a rotina de guiar os humanos. Hipócritas humanos, em sua maioria. Eu mesmo, às vezes, me surpreendo com o esforço gigante que faço para cumprir tal função. E isto está me deixando pouco a pouco mais fraco.
Fico conturbado com a notícia.
-Rafael, você tem certeza que está falando com o anjo certo?
-Sim, Karrel. Amanhã, ao amanhecer, está bem?
Digno de um membro do Conselho, olhou-me com firmeza e esperança ao dizer as últimas palavras. Admiravelmente, fitou o céu e voou, deixando assim com que a água da chuva que o molhou enquanto falava comigo se libertasse de suas asas.

[talvez continue... ]

1 de maio de 2010

História ainda sem nome de uma menina chamada Melissa! :)

O vento bate na árvore, as flores caem e fazem festa com o vestido da menina. A mãe chama:
-Melissa! Vamos logo, é hora de ir para a escola!

Hora, hora. A menina nem sabe ao certo o que é "hora" e tem que ir pra escola aprender números, soma, escrever o bê-a-bá. Obrigação chata!
Por que ela não pode ficar serelepiando embaixo da árvore, que quando o vento bate faz cair as flores que fazem festa com o vestido da menina?
- Vamos logo mocinha, mais cinco minutos e você não consegue chegar a tempo!

Tempo. Como o tempo é chato com Melissa! Com cara de emburrada, ela pega a sua mochilinha, e o lanchinho preparado pela mãe com carinho, todos os dias...
O que será que mamãe preparou hoje para mim? Espero que seja uma coisa bem gostosa!- e guarda também o seu lacinho de amarrar o cabelo na sua mochila vermelha.
-Tchau, mamãe!
Um beijo na buchecha, e a preocupação rotineira a faz falar:
-Cuidado hem, filhinha? Vá pelo caminho da padaria, não fale com estranhos, não...
-Não atravesse a rua sem olhar para os dois lados... eu já sei de tudo isso mamãe! Tchau!

Essa menina... mal entrou pra escolinha e acha que é gente grande!- a mãe se diverte com o pensamento, e ri.
Menina esperta essa, com milhões de ideias intrigantes em sua cabecinha a cada passo que dá.

Um gatinho branco passa correndo assustado lá bem longe.
Por que será que o gatinho está assustado? Ah... ele tem sete vidas, não é mesmo? Ouvi essa conversa de sete vidas com os meninos lá da escola, na hora do recreio. Será que é verdade?

Ela passa agora pela padaria.
-Oi Melissa! Tudo bem minha queridinha? Corra, o sinal da sua escolinha vai soar agorinha mesmo!
- Oi dona Maria! Tudo bem, sim! Hoje eu me atrasei porque estava brincando lá no balanço embaixo da árvore... nem vi o tempo passar!

Dona Maria é encantada com o encanto de Melissa.
-Então vá, o tempo não perdoa nosso atraso! Na volta passe aqui porque tenho uma surpresa pra você!
- Tá bom, dona Maria! A senhora me deixou curiosa!
-Vá Melissa, vá!- e fica olhando a menininha se apressar.

Dessa vez ela correu, e ficou cansada. Só parou quando chegou na porta, bateu e pediu licença para entrar em sua sala de aula. Ainda bem que a professora é uma moça muito boazinha!
- De novo atrasada, dona Melissa? O que aconteceu dessa vez?
-É que no meio do caminho eu tive que amarrar meu sapatinho, que tinha desamarrado, e a senhora sabe... não sou muito boa em amarrar meu sapatinho, e...
-Tudo bem Melissa, tudo bem- a professora, no fundo, achava graça das desculpinhas esfarrapadas da aluninha- Agora sente-se, porque vou começar nossa aula!

Foi o que ela fez, satisfeira por achar que a professora tinha acreditado.


[continua...]