2 de setembro de 2010

A vida esperava ansiosa por seus caminhos.

Ah!, já a algum tempo a menina de flor no cabelo sentia seu sorriso aflorar, a sua vontade inconstante de se libertar, a paixão em seu ser. Às vezes no jardim de casa ficava rodopiando, e sorrindo, e pensando no que seria dos dias depois de amanhã, nos lugares em que iria, nos filmes que assistiria em sua companhia. Pensava em rimas bonitas, queria ser poeta para fazer poesia dos sentimentos. Mas isso ela não sabia.
Ah, e como poderia expressar então aquela nova sensação? Queria que fosse de uma maneira única. Uma maneira que fizesse bem. De um gesto que marcasse para que sempre lembrasse disso em sua vida. Tinha de ser simples e bonito...
Correu. Fora se olhar no espelho. Já era uma moça... tinha cabelos compridos e olhos claros como o azul do céu. Os cabelos escuros e encaracolados se envolviam numa onde de ternura quando nele ela mexia, brincava, quando o bagunçava. Seus pés adoravam o chão. Seu corpo adorava o leve, o suave, os vestidos de cetim.
Achou graça de sua flor. Riu de si mesma por ser tão boba! Ficar se admirando como Narciso? Poderia acabar como ele... não! A vida esperava por ela. Esperava por seus passos, esperava ansiosa por seus caminhos.
Voltou feliz para o quintal. Viu uma joaninha, e se encantava por estes seres tão delicados! Brincou com ela até se cansar. Sentou na sombra de uma jabuticabeira.
No acolher do despetalar das pétalas... bem-me-quer, mal-me-quer. Bem-me-quer, mal-me-quer. Bem-me... adormeceu.
Logo ouviu ao longe uma música. Era linda! Olhou para trás e viu um homem e uma mulher a se aproximar. Vestidos como nas histórias dos livros de criança. Ele estava tocando em seu violão, e ela romântica, de saia comprida e uma cesta cheia de rosas na mão, começara a cantar:
"se enamora... quem vê você chegar com tantas cores, e vê você passar perto das flores... parece que elas querem te roubar!
... às vezes faço que não vejo e nem ligo, fingindo que sou distraída demais..."
Os dois pareciam muito contentes. A menina ficara envergonhada... era isso o que sentia. Eles foram chegando mais perto, e começaram a contempla-la. Acanhada, seus olhos brilharam. Aquela cena que ali se fazia era tão irreal!
- Será que eu poderia comprar uma de suas rosas para dar a essa linda moça?- perguntou o menino que chegara; ninguém havia notado sua presença!
- Claro que sim- respondeu a mulher com a cesta de flores na mão- custam um real!
Ela lhe deu a mais bonita, e com encanto em sua voz foi indo embora, acompanhada pela melodia do violão.
A menina não acreditava que ele estava ali em sua frente, lhe oferecendo com um sorriso tão bonito uma rosa em flor.
- É pra você.
"se enamora... quem vê você chegar com tantas flores..."
Ele a convidou para dançar, e assim que ela apoiou suas mãos em volta de seu pescoço, começaram a se levar com o vento. Seus pés no chão deixavam o momento ainda mais especial. Eles ali se uniam em um só, como quando ela brincara de caretas no espelho de seu quarto.
Ele tocou em sua face e fez carinho em seus cabelos, quando enfim...
Ela acordou. A joaninha não estava mais ali... que sonho lindo! Foi procurar no quintal uma moça com rosas vermelhas e um homem a tocar em seu violão.


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