23 de julho de 2010

Em si, mistério. A vida. Ah...vida!

De um lado eu via aquela criança com olhos gigantes e curiosos. Fixos em qualquer lugar , qualquer pessoa, qualquer coisa que se apresentasse como mistério. Aquela mão que de tão pequena só era capaz de segurar meus dedos, aquele cabelo liso e ralo, e aquele corpo tão frágil... Aquele cheiro que só essas pequenas criaturas têm.
Do outro, aquele corpo frágil e também aquele cabelo ralo, mas desta vez acompanhados de rugas, marcas de expressões, cicatrizes e muitas histórias. Por onde será que essa mulher já passou, e quais será as sensações que ela sentiu? Será que já teve um grande amor? E sofrimentos....será que já sentiu alguma vez o que é a dor? Filhos, quantos filhos? E netos, será que também tem? E da vida, o que ela aprendeu? Experiência deve sobrar... mas e paciência? Ah, aquele sorriso demonstrava tanta tranquilidade e alegria, a meio de dores no corpo, por já ser velho, e a falta de descanso tão merecido. Será que o coração dela sempre foi assim, bondoso? Imagino uma mulher muito segura e confiante, rígida, e ao mesmo tempo admirável. Isso me faz sorrir.
Logo depois encontro um homem e procuro em suas feições e seu jeito algo que pudesse lembrar meu pai. Aquele cabelo branco, aqueles olhos marejados e escuros, aquele sorriso, aquele tom de voz, aquelas palavras... não, não consegui. Talvez aquelas marcas em seu rosto e o seu jeito brincalhão já tenha ficado um pouco menos nítido para mim. Mas a saudade surgiu, e a recordação de alguns de seus gestos também.
Continuei a olhar curiosa para aquele homem enquanto falava, e percebi que estava agindo como aquela criança com olhos gigantes. Percebi que um dia também vou ter rugas e um corpo frágil novamente, talvez algumas dores e com certeza a história de um grande amor. E quem sabe muitos filhos e muitos netos que aos domingos irão me visitar. Mas o mais importante é que, ao meio de tantas marcas e dor, exista vida e alegria no sorriso. Que haja muitos sorrisos e o coração bondoso, como o da velha que a criança olhava curiosa, aquela velha que apresentava um mistério em seu ser. Assim como é a vida.

3 comentários:

  1. Magnífico, me deixou pensativo e mexeu comigo, muito belo texto, parabéns. Não tenho conseguido me expressar bem, então, acho que é isso.

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  2. Realmente um relato interessante. Muito bom, Lii. Me faz pensar um pouco sobre a nossa breve existência e o que podemos aprender e ensinar com ela. Admiro seu estilo de escrever.

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  3. algo a se pensar... ^^ filosófico, hehe parabéns liiih (:

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